economia

'Intelectuais não são melhores do que microempresários', diz economista norte-americana

Joyce Noronha

Fotos: Joyce Noronha (Diário)

A economista norte-americana Deirdre McCloskey esteve em Santa Maria para palestrar no Simpósio Interdisciplinar Farroupilha (SIF) 2018. O Diário conversou com ela sobre liberalismo econômico e a economia do Brasil. O SIF foi promovido pelo Clube Farroupilha e ocorreu em novembro.

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No evento, Deirdre falou sobre "Liberalismo humano: o que nos torna ricos e razoavelmente bons", que ela explica como uma relação entre liberdade e riqueza. Para a economista, ser rico não é necessariamente ter milhões na conta bancária, mas ter como usufruir de pequenos privilégios que resultam por meio do trabalho possível a partir do liberalismo econômico. Como ter um ar-condicionado, um carro e outras mordomias. Confira a íntegra da entrevista:

Diário de Santa Maria - Em seu trabalho, nos livros, principalmente, a senhora fala bastante sobre a burguesia. A igualdade, a dignidade e a virtude da burguesia são temas de três dos seus livros. Por que trabalhar tanto com este assunto?

Deirdre McCloskey - Porque a palavra é usada com uma conotação ruim, quase como um palavrão. Seja no Brasil, na França, nos Estados Unidos ou em outra parte do mundo se fala: "Nossa, você é tão burguês!", como se isso fosse ruim e isto é estupidez. A burguesia é a classe média, especialmente, trabalhadores, pequenos fabricantes e microempresários, que são o coração da economia. A gente precisa parar de diminuir e desconsiderar esta classe. Isto é estúpido, como se os intelectuais fossem melhores. Isto é ruim para a economia, isto é ruim à liberdade econômica da sociedade.

Diário - Há um ano, o Brasil fez uma Reforma Trabalhista. Você está ciente destas mudanças? Se sim, o que acha sobre a nossa reforma?

Deirdre - Eu li alguma coisa sobre, mas não conheço a fundo. Sobre o que eu vi, é bom. Pelo que sei, as mudanças trazem vantagens aos trabalhadores, porque tenta extrair mais benefícios das pessoas empreendedoras. Isto é produtivo. Pessoas empreendedoras são os representantes dos consumidores. Estar em favor dos negócios é estar em favor do trabalho, porque todo mundo que trabalha também é um consumidor. Então, a coisa inteligente a se fazer é não ter leis trabalhistas, em absoluto. Claro que sou contra à escravidão e abusos, sexual e moral, contra os trabalhadores, sou a favor de se ter leis para isso, para proteger o trabalhador disso. Mas acho que não precisa ter leis sobre salários, por exemplo. Como o salário mínimo. Pode soar como uma ótima ideia, afinal, são pessoas pobres que estão recebendo um valor específico, considerado por alguns como suficiente, que muitas vezes não é o suficiente. Mas isso significa que as pessoas com menos habilidades não conseguem empregos de qualquer natureza. E isso aumenta taxas de desemprego, então isso é uma péssima ideia.

Diário - Sobre cenários político-econômicos. Quando Donald Trump se candidatou, teve uma campanha bastante polêmica, mas se elegeu. No Brasil, tivemos situação semelhante, com o presidente eleito, Jair Bolsonaro, que muitas vezes foi comparado a Trump, pelas polêmicas. Economicamente, como foram para os Estados Unidos os primeiros anos com Trump? Podemos esperar algo semelhante para o Brasil com Bolsonaro?

Deirdre - Eles são... Como se diz em espanhol: eles são "loco". Eles são terríveis. Acho o Trump um fascista e acho que o cara do Brasil... Bem, ele é um militar da reserva, pensa pelo mesmo caminho. Mas ele, Bolsonaro, tem conselheiros que são liberais, enquanto o Trump não tem pessoas assim na equipe. Trump tem conselheiros que são protecionistas, nacionalistas e fascistas. Esta é a diferença entre eles. Os dois são estúpidos, mas o eleito no Brasil escolheu uma boa equipe. Vamos ver o que acontece depois que ele (Bolsonaro) assumir.

Diário - Para a economia do Brasil, o que se pode esperar?

Deirdre - A economia do Brasil vai prosperar se conseguir derrubar o protecionismo, este é o problema no país. Há um excesso de regularização da economia. Em outras palavras, o governo está envolvido demais com a economia. É preciso entender que existem mercados livres. Acho que a equipe financeira do presidente eleito do Brasil vai aconselhá-lo a buscar isso. Proteger o empreendedorismo local é uma ideia terrível.

Diário - E sobre a sua trajetória. Você já estava com um trabalho consolidado quando começou a transição de gênero em 1995, uma época em que não era tão comum este tipo de assunto...

Deirdre - Agora se tornou até chato (risos). Você fala: "Sou uma mulher transgênero", e as pessoas dizem: "Ah, legal! Isso é interessante", e seguem com suas vidas. Ninguém se importa mais (risos). Eu seria a última a saber que eu perdi um emprego em Harvard por ser transgênero. Na época em que comecei a transição minha carreira já estava estruturada. Eu era professor universitário. As pessoas que fazem isso hoje em dia são mais novas. Corajosas, sim. Mas são mais novas. São pessoas que estão na faculdade. Eu acreditava que perderia minha carreira, acreditava que seria demitida, que não seria mais chamada para palestras. Eu esperava perder minha carreira se fosse mulher. Eu fui casado por 30 anos, tenho dois filhos... Foi um bom casamento. Infelizmente, meu casamento acabou e minha família não fala comigo desde 1995. Tenho três netos que nunca vi. Mas tive boas notícias, mantive minha carreira, escrevi mais livros, segui meu trabalho. Então, estou bem.

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